quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Meu Querido Dahmer, de Derf Backderf



Gosto de ler histórias em quadrinhos especialmente dos super-heróis, mas também olho para outros ramos e uma que me despertou a atenção, neste retorno depois de década e meia longe, foi a Graphic Novel de Derf Backderf chamada Meu Amigo Dahmer. O autor não é estreante e além desta traz no currículo outras como Punk Rock & Trailer Parks (2010), e Thrashed (2015) muito bem avaliadas no cenário responsáveis por colocá-lo entre os grandes quadrinistas.




Em Meu Amigo Dahmer (2017), ele, conta como foi ter sido adolescente nos EUA dos anos de 1970, na era do Punk, e de como foi a sua convivência com Jeffrey Dahmer. No Brasil quem se encarregou de publica-la foi a Darkside Books, que; inclusive, já publicou vários livros sobre assassinos em série e inaugurou a sua entrada neste universo com a introdução desta história no mercado brasileiro.

Antes de prosseguir é necessário saber quem foi Dahmer e o que realmente ele fez. Ele foi um dos mais perversos e sombrios serial killer do tempo presente. Os seus crimes, cometidos entre 1978 a 1991, quando vieram à tona com a sua prisão chocaram o país, os policiais, investigadores e até mesmo os psicólogos do FBI, a imprensa, que tomaram seu depoimento e o entrevistaram ficaram totalmente estarrecidos ao descobrirem a prática de canibalismo, necrofilia, estupro, também; experiências como lobotomias, furava crânio com furadeira e injetava ácido pelos orifícios para viabilizar a criação de uma raça de zumbis.   


A história narrada por Derf é que Dahmer era um garoto que vinha de uma família desestruturada cujo pai, Leonel, era um químico que passava mais tempo dedicado ao trabalho do que a família e sua mãe, Joyce, era uma pessoa que provavelmente sofria de alguma patologia mental, esquizofrenia, e também era viciada em remédios controlados e sofria constantes e fortes ataques convulsivos. O adolescente Jeffrey passou por tudo isso vendo de camarote no mesmo tempo em que era negligenciado, deixado de lado e mais tarde foi abandono por sua mãe após o divórcio dos pais.

Na escola o adolescente vivia a reprise do que acontecia em casa. O rapaz era anti social, considerado estranho e esquisito pelos colegas, relegado ao limbo completamente a margem de tudo e de todos os outros seres viventes: alunos, professores e funcionários do colégio. Só passou a ser notado quando começou a imitar os trejeitos do decorador e dos ataques convulsivos que sua mãe tinha para chamar a atenção dos seus colegas, e, isto funcionou; os outros colegas, como diz Derf também eram de casta inferior, se reuniram em torno dele e começaram uma amizade com ele.


Nessa seara em que se encontra, Jeff; quer dizer -, totalmente largado a própria sorte em meio ao caos e ausência, ao desprezo dos membros de seu círculo social, época me que ele começa a descobrir a sua sexualidade. Jeffrey descobre-se homossexual, mas os desejos eram patológicos gostava de necrofilia e os seus parceiros, portanto, tereiam que ser cadáveres. O seu fetiche sexual consistia em ter total controle sobre seus parceiros durante o ato sexual, como se estes fossem brinquedos que estavam ali naquele momento apenas para satisfazer suas pulsões sexuais. Para tentar sufocar esses desejos que ele sabia serem anormais e que o atormentavam dia e noite apelou para o uso frequente do álcool e tornou-se, por esse motivo, um alcoólatra. Tudo isto foi em vão porque ele nunca conseguiu vencer o seu pesadelo perdendo o controle, que ele nunca obteve, de suas obsessões doentias que ao longo do tempo ganhavam mais e mais força.

Através de sua narrativa Backderf vai mostra passo a passo a transformação do adolescente Jeffrey Dahmer, um cara sem qualquer relacionamento social, família, em um psicopata que não obstante cometeria o primeiro de seus inúmeros e horripilantes crimes. O traço do quadrinista através da expressão facial do protagonista expressa um ambiente e um personagem tenso e que não provoca risos em momento algum e, além disso, é evidente a influência de Robert Crumb (um mago underground dos quadrinhos) e somados ao domínio pleno da narrativa muito bem encadeada, coesa, de sua trama atordoante prende o leitor e o leva a devorar as páginas numa sentada de no mínimo uma horinha.


Meu Amigo Dahmer se limita a contra a história que ninguém estava contando de Jeff, ou melhor, resume-se a adolescência que foi a época que, no colégio, Derf Backderf conheceu e conviveu com ele e termina em seu primeiro homicídio praticado contra Steven Hicks. Ao final da leitura há reflexões sobre a negligência dos adultos, professores e pais, que nem sequer se deram conta de que tinham ali bem debaixo de seus narizes um psicopata em processo de formação e também há perguntas igualmente perturbadoras como, por exemplo, porque outras crianças e adolescentes que vem da mesma, ou pior, experiência da qual ele veio e não se tornaram monstros como ele? Fato que comprava que o subjetivo dele estava completamente distorcido e retorcido e que o faria mergulhar no abismo de sua loucura e desencadeando tamanha perversidade.

Para evitar qualquer contaminação por ter convivido de perto com o à época futuro canibal de Milwaukee e apresenta-lo numa versão romantizada, Beckderf tratou de separar o joio do trigo ao disparar que sua simpatia pelo rapaz terminou quando ele iniciou sua vida de crimes que apesar do descaso poderiam ter sido evitados. Ao contrário do que pensam os fãs de Jeffrey, Derf dispara impiedosamente afirmando que ele não era uma vítima da sociedade que reagiu contra a violência e o descaso da sociedade praticados contra ele. Para o autor desta Graphic Novel, Dahmer era consciente de tudo o estava lhe aconteceu, mas que sucumbiu a loucura e liberou sua perversidade sobre pessoas que nada tinham haver com suas infelicidade e problemas levando muita infelicidade para muitas famílias por escolha própria, pois poderia ter evitado tudo isto.


Eu sou leitor inveterado de livros e não me prendo a um gênero gosto de explorar porque vejo a leitura como um exercício de libertação, um refugio para os dias difíceis e também de reconstrução e construção dos laços afetivos e humanos que envolvem a sociedade e especialmente nos tempos atuais no qual estamos inclusos. Vejo hoje nas HQS uma grande força de inclusão e fonte de informação que podem levar ao leitor inúmeros assuntos e despertar reflexões sérias e maduras sobre a realidade e está Graphic Novel me deixou uma reflexão, isto é, ela diz muito sobre a sociedade e seus valores e que estes devem mudar e também sobre nós mesmo em nossos relacionamentos sociais sempre nos lembrando de que tipo de mundo em que nós queremos viver. 

Além disto, Meu Amigo Dahmer é um trabalho de esmero da editora Dark Side Books por ter incluído no livro mais 100 páginas de material extra. O trabalho de 20 anos de pesquisa para esta obra se servia inúmeras entrevistas feitas pelo FBI, entrevistas com alunos, professores, vizinhos da família, mas o maior peso são suas memórias que nos permite entrar nesse universo sombrio, perturbador e que, sim, deixa o leitor fascinado. Ainda somam-se aqui o prêmio Revelação no festival francês de Angoulême e por ter sido levada ao cinema pelo diretor Marc Mayer cujo filme já está disponível nos serviços de streaming como Pop Corn. Boa leitura.   

Detalhes da obra: 

Capa dura: 288 páginas
Editora: DarkSide (28 de junho de 2017)
Dimensões do produto: 23,4 x 15,7 x 2,8 cm
Preço: R$ 59,90

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